DESENVOLVENDO AUTONOMIA NOS ESTUDOS À DISTÂNCIA



“Se antes a terra e depois o capital eram os fatores decisivos da produção (...) hoje o fator decisivo é cada vez mais, o homem em si, ou seja, seu conhecimento.”
Encíclica Centesimus Annus – 1991
João Paulo II

Saindo das eras da agricultura, industria, tecnologia em informação e conhecimento o ser humano depara-se com a produtividade e a intuição, aspectos até a pouco tempo não considerados pela escola tradicional. A própria era da intuição já começa a ser o prenúncio da era das relações. E nesse entorno das novas práticas do saber deparamo-nos com o ser presença à distância.

Atualmente uma nova modalidade de ensino está entrando em vigor e está gerando desenvolvimento empreendedor no âmbito, tanto individual, quanto coletivo, social. No entanto, ainda enfrenta algumas barreiras a sua maior expansão e efetividade, assim como a época em que o computador aos poucos começava ingressar no cotidiano dos cidadãos. Sabia-se que era necessária a mudança e apesar do avanço gradual, aos poucos o computador tormou-se ferramenta necessária aos novos tempos da comunicação enquanto instrução tecnológica e nova alfabetização (infoinclusão).

Na era das relações o papel da educação é o de facilitar a transição da era material para a era das relações. A nova escola pressupõe, através do paradigma emergente da educação, indícios para que ela aconteça com a educação voltada ao ser humano, ao enfoque reflexivo na prática pedagógica, à nova ecologia intuitiva, à autonomia com cooperação e criatividade e educação à cidadania global. 

Nesse processo, conforme Maria Cândida Moraes, há compartilhamento, interação e construção, reconstrução e  transformações. É a chamada nova escola que possuí quatro pilares da educação especificados no relatório da UNESCO no ano de 1999. E são eles: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

Sabe-se que uma das dificuldades hoje no contexto do estudante, do aprendiz é a própria administração do tempo. Isso devido ao trabalho que se tornou comum a grande maioria e que ocupa entre dois a três turnos das pessoas no cotidiano. Então como adequar os estudos, a emancipação do cidadão obedecendo moldes conforme a tradição presencial/tradicional se o tempo e as funções do indivíduo, já desde tenra juventude, não são os mesmos? Como adequar-se ao estudo se muitas vezes, apesar da presença física, a ausência, o devaneio são instigados por práticas muito centralizadas na educação formal e geralmente unívoca no dia-a-dia de uma sala de aula. Como aproximar-se dos novos métodos propostos pelo paradigma emergente de uma nova escola?

Na Educação à Distância  encontramos a proximidade com o que é proposto e ela tem por objetivos básicos os seguintes fatores: promover conhecimento, estimular o senso crítico, formar cidadãos e possibilitar o acesso à cultura. Devido ao material didático ser fornecido com as devidas orientações e estar sendo amparado pelo equipe de apoio dos centros de estudo, ele intercala-se, por instrumentos midiáticos, ao acompanhamento e avaliação aprendizante

No entanto, para que haja a nova relação presença, apesar da distância, torna-se necessário que o estudante precise desenvolver-se enquanto ser que é interativo, dinâmico, empreendedor, multidisciplinar. Que alce autonomia nos estudos consciente de sua razão de aprendizagem. Não basta ter acesso, pois é preciso consciência no processo do aprender. E como aprendemos? Ora, a aprendizagem ocorre a partir do processo individual do sujeito e à interação do mundo externo, o que não implica que o fator distância seja uma questão de plena efetividade centrada na presença efetivamente e exclusivamente física. Essa aprendizagem, é antes de tudo produto de uma interação.

Conforme o filósofo Augusto Comte, o conhecimento deve permitir ao ser humano satisfazer suas necessidades, sejam materiais, intelectuais ou espirituais. E nessa afirmação, a educação à distância possibilita ao aprendiz e sua tutoria, não somente a nova relação e interação, mas os diferentes meios para a efetivação dessa aprendizagem levando em conta o próprio instigar à emancipação da pessoa enquanto sujeito que se reorganiza. Enquanto sujeito que planeja, auto-direciona-se e controla a própria aprendizagem.

Paulo Freire em sua obra descreve características que estão ligadas a essa modalidade de ensino: a autonomia.  Ela rompe com o paradigma das respostas prontas, dos métodos convencionais e da postura passiva, já que aprende-se produzindo. Ele define a autonomia como capacidade do aprendiz de transformar o que lhe foi ensinado, construindo e reconstruindo seu conhecimento.

Segundo texto adaptado de Gaston Pineau, a autonomia na educação significa “tomar para si” sua própria formação, seus objetivos e fins, isto é, tornar-se sujeito e objeto de formação para si mesmo. Sendo assim, tornar-se consciente do sentido da autonomia é o primeiro passo para construí-la. 

Esse tipo de postura requerido pelo discente que ingressa em estudos à distância influência não exclusivamente os modelos educacionais já conhecidos, mas conduz a uma mudança de comportamento onde o sujeito necessita adequar-se as novas tecnologias. Elas refletem, até mesmo, as novas exigências do mercado de trabalho, que começou a exigir como novo pré-requisito, profissionais mais dinâmicos e efetivamente multidiciplinares na construção do coletivo.

Sobre a implicação da presença como dificuldade em sala de aula, Elisângela Campus Rodrigues afirma que o (...) problema é de ordem didática, representada pela educação tradicional e seu modelo de dependência, a necessidade de presença física e do professor como centro do saber. A educação tradicional configurou uma cultura de transferência e não uma cultura autônoma, de pesquisa e questionamento fundados em conversas inteligentes.

Nisso conclui-se que tomar a educação à distância enquanto método é uma forma da educação ser empreendedora e estar alicerçada nos fundamentos de cidadania. Isso significa que somente quando ingressamos em algo que nos transfere para uma postura ativa e nos direciona à emancipação é que nos tornamos sujeitos de nossos saberes pelo fato de estarmos construindo, o mesmo, sob orientação e não direção normativa. E dessa maneira que o docente que orienta começa aos poucos aassumir o seu papel e função na sociedade do conhecimento como facilitador, norteador desse processo, enquanto que o corpo discente assume uma nova postura e de maneira que se responsabilize por seu papel, função, assumindo sua nova postura de ser aprendiz autônomo apesar da ‘distância’ virtual através dos meios midiáticos que chegam a seu alcance.


Cleitoir Pinheiro Munhoz